Onde acaba a fila?
Ontem os nossos olhos voltaram a não ver o fim da fila !
Outra equipa numa zona mais afastada do centro da cidade , distribuía os kits tão pedidos: baguetes com pasta de frango, salada, ovo e tomate. “Que saudades destas sandes”. Um pouco mais à frente numas escadas escondidas dos olhares de quem passa, a mesma expressão e satisfação. e a noite foi passando. De ponto em ponto onde sabemos onde estão pessoas sem comer, fomos indo. O GPS do coração ligado desde que saímos de casa e fomos indo. Numa montra pouco iluminada mas com jardim lindíssimo , lá estava o Sr XXX. Esta semana soubemos que pernoitava ali , tinha saído da Boavista para poder “descansar melhor”. Não nos conhecia, mas a nossa passagem não o incomodou bem pelo contrário. Olhava para a saca como uma criança que tenta adivinhar se será um presente. Educado e simpático quis saber como o tínhamos encontrado. ” Sabe aquele Sr que todas as noites lhe traz alguma coisa para comer? Hoje está de folga mas preocupado se iria ter alguma coisa para comer, foi assim que o encontramos. Esse Sr também é voluntário! Foi ele que nos falou dos seus gostos “.
O Sr XXXXX ficou surpreendido e com um olhar muito mais doce e terno ” ainda bem que alguém se lembra de mim. Sabem que esse amigo voluntário na quinta-feira quando veio trabalhar veio ter comigo para me dar o jantar, mas trazia uma laranja que eu não posso comer por causa do fígado e sabem o que fez? Foi à sua mochila e deu-me a maça que ia comer durante a noite…são poucas as pessoas que entendem , mas por dormir na rua tenho que cuidar da pouca saúde que me resta, não é?”
Como tinha razão! Por dormirem na rua estão por sua conta e risco, mas muitos ainda se agarram ao pouco que têm, neste caso a VIDA!