Parecia um conto de Natal

“Parece um conto de natal mas não e já passaram uns anos.
A semana passada uma sra de muita idade com rugas bem marcadas, cabelinho branco e sedoso, corpo magro e de passo lento sentiu -se mal na farmácia onde eu estava pela minha vez .
Foi assistida pelo farmacêutico e descansada por a ver recuperar acabei por vir embora mas inquieta .
Já no carro ao telefone com uma amiga ( se assim mo permite chamar ) acabei por interromper a conversa pois vi umas mãozinhas com luvas pretas a bater -me no espelho e a chamar por mim .
A chamada ficou ligada porque nem houve tempo para perceber o que seria .
” A menina vai para onde ? ” perguntou-me uma voz doce e fraca . Respondi que ia em frente mas reparei que não era essa a resposta pretendida .

  • Foi a Sra que se estava a sentir mal na farmácia , não era? Claro que era , pergunta parva a minha pois só tinham passados poucos minutos .
    “Sim era mas tenho que ir para casa e ainda estou tonta , menina !
    Então vamos lá que eu levo -a a casa .
    Pelo caminho foi falando de si , faz 89 anos este mês , tem filho e uma sobrinha .
    A viagem foi curta para quem anda de carro mas para quem teria que ir a pé ainda seriam 2km.
    Chegamos ao prédio e a despedida foi uma ternura , abraços quentes e mãos na cara , agradecimento escusado mas sincero que me fizeram prometer para a visitar .
    Sábado , bem mais cedo do que pensava a amiga que falava comigo ao telefone chega com uma saca recheada de tudo um pouco , onde cada embrulho tinha um laço de magia e de carinho .
    Lá fui eu entregar à D.Odete os miminhos que lhe tinham enviado .
    Confesso que estava receosa da sua reação, tinha sido apenas uma boleia , uma conversa e uma promessa de voltar para falarmos .
    Desceu 3° andar com um roupão Rosa bebé, mesmo apropriado à sua pele e idade .
    Não foram precisas palavras porque o abraço falou primeiro .
    Expliquei lhe o que tinha acontecido e as suas mãos ficaram no peito pois achava que não merecia tanto ou nada .
    A sua humildade e gentileza fez me desejar que muitos fossem assim . Falamos mais um pouco e era hora de voltar para a rua e nova promessa de voltar com mais tempo , sim até porque vou guardar a saca do Ikea que deve ser cara e a menina devolve à sua amiga .
    Lá ficou a saca para a ir buscar … lá ficou a D.Odete a acenar -me com um sorriso de amor e gratidão enquanto atirava beijinhos que os sentia na minha cara fria .
    Saí leve , feliz , saí com vontade de regressar porque na verdade a saca pode fazer falta 😉
    Podia ser um conto de natal mas não foi. “

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