“Gostava mesmo de fazer voluntariado com sem abrigo”

“Gostava mesmo de fazer voluntariado com sem abrigo”

Amigos que nos abrem o coração

“O destino não vem do exterior para o homem, ele emerge do próprio homem.”

Rainer Rilke

Por Rosa Silva:

Tanto pensei! Tanto pensei!

“Gostava mesmo de fazer voluntariado com sem abrigo”, mas o pensamento nunca

virava acção, até que o destino decidiu dar um empurrãozinho!

Todos temos as nossas histórias de como viemos parar ao “Coração na rua”, muitas

vezes trazidos por amigos. Foi assim que aconteceu comigo, o meu amigo chamava-

se Volodymyr Bezrodny e foi um dos primeiros sem abrigo ajudados pelo pequeno

grupo inicial do “Coração na rua”.

Por circunstâncias da vida conhecemo-nos e tornamo-nos amigos. Ele falava-me dos

amigos que o ajudaram e ajudavam na rua, de como costumava ir jantar ao ponto do

Santo António, de como as amigas do grupo o visitavam na pensão onde agora vivia e

lhe levavam comida, roupa e percebi eu, muita amizade.

Depois por mais uma partida do destino fiquei com o carro avariado e à espera do

reboque, num sábado à noite junto ao jardim do Carregal. Então aproveitei para

perguntar a um senhor que servia um idoso deitado na berma de um passeio quem

eram: “somos o grupo “Coração na rua” pode encontrar-nos no facebook”.

E assim foi, procurei a página, li tudo o que podia, vi fotos das saídas e de muitas

outras actividades “extra”.

Decidi levar alguns alimentos a um evento que realizaram na minha cidade e aí

conheci os responsáveis e recebi o convite de participar em uma saída.

Sem conhecer ninguém lá fui, mergulhar na confusão de gente que se encontrava na

praça Velasquez.

Lembro-me desse primeiro dia como se tivesse sido ontem; saída antes do Natal, com

motards a acompanhar, muitos voluntários impelidos pelo espirito natalício e uma roda

final na árvore de Natal gigante.

Estive no ponto de S. Bento, distribuí o pão, tarefa que repeti muitas mais vezes ao

longo destes já 3 anos. Engraçado agora que penso, na minha primeira saída, distribuí

o que sempre associamos com a caridade “o pão”. No entanto, ao longo destes anos

também descobri que não faço “caridade” e que na maioria das vezes não é o pão

material que faz mais falta, outro “pão” é distribuído quando conversamos e

conhecemos tudo o que perturba quem nos procura.

Desde então foram numerosas as saídas (até agora só 4 faltas no meu currículo), não

as recordo a todas porque o cérebro prega partidas, as situações e sentimentos

misturam-se mas, sei que em cada uma vivi algo especial, aventuras que me fazem

sorrir ao recordar e experiências de vida que nos ensinam a valorizar cada pequena

mordomia.

Voltando ao principio deixo a minha homenagem ao meu amigo e grande professor

que muito me ensinou, e principalmente que com o seu percurso me fez perceber a

ineficácia da reintegração dos sem abrigo, um tecto não é só o que precisam!

Precisam de comida, roupa, mas, principalmente precisam da possibilidade de

construir objectivos, de ver mais para a frente!

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